Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que aquilo que se vê não foi feito do que é visível. - Hebreus 11:3
Num determinado momento da fábula de Antoine Saint-Exupèry, 'O Pequeno
Príncipe', a Raposa diz ao Príncipe: “O essencial é invisível aos
olhos”. Ela poderia estar falando do nosso universo, onde o essencial
também é invisível aos olhos. Para estudarmos corpos celestes distantes,
temos que “vê-los” de alguma forma: astrônomos coletam a radiação
eletromagnética — a luz visível, infravermelho, ultravioleta — emitida
pelas estrelas e galáxias para, então, analisar as suas propriedades:
composição química, movimento, distância. A partir dessa radiação
coletada estudamos, por exemplo, o movimento e a distribuição das
galáxias no Universo. E é aí que as surpresas começam.
Já na década de 1930, o astrônomo Fritz Zwicky, observando galáxias nos
chamados aglomerados — grupos de galáxias, às vezes milhares delas, que
se mantêm juntas devido à sua atração gravitacional —, concluiu que as
suas velocidades eram altas demais para que só houvesse matéria
“visível”, isto é, a que emitia luz visível. Zwicky conjecturou que
deveria existir algum tipo de matéria “escura”, de forma que sua massa
extra causasse o aumento nas velocidades.
Nas décadas seguintes, observações confirmaram a descoberta: galáxias
individuais giram mais rápido do que devem e distorcem o espaço à sua
volta de forma mais dramática do que se tivessem apenas matéria
luminosa. O mais chocante é que a matéria escura tem uma composição
completamente diferente da matéria comum, da qual somos feitos. Todas as
estrelas, planetas e pessoas são compostas de átomos, que, por sua vez,
são feitos de prótons, elétrons e nêutrons. A matéria escura não. O
problema é que não sabemos do que é feita.
O mistério aumentou em 1998, quando dois grupos de astrônomos mostraram
que o Universo está em expansão acelerada. As galáxias são carregadas
como rolhas num rio. Quando se calculou a quantidade dessa “energia
escura” necessária para explicar as observações, o choque foi geral:
deve contribuir com 70% da matéria e energia que preenchem o Universo.
Juntando com os 25% de matéria escura, sobram apenas 5% para a matéria
comum. Vivemos numa era interessante, na qual sabemos a contribuição dos
ingredientes para a receita cósmica, mas não o que são eles. O
essencial não só é invisível, mas misterioso.
* Professor de física e astronomia do Dartmouth College, nos EUA. É
vencedor de dois prêmios Jabuti e seu mais novo livro chama-se Criação
Imperfeita
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